
Salomé Custódio
Dezembro 2024
PATRIMÓNIO GEOLÓGICO
SÓCIA APG Nº A1593
Nascida em Coimbra, mas criada na Figueira da Foz, formou-se em Geologia na UC. Como estudante, dedicou-se à "vida académica", tendo estado na direção do núcleo de Geociências. Após uma curta incursão no mundo do petróleo, hoje queima pestanas na fundamentação de uma futura candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO. Vai um Efe-Erre-Á?
"(...) Porque a professora Maria Helena foi e é um grande ídolo, e vejo-a todos os dias, vejo sempre o que está a acontecer, e tudo o que se passa, e ela sem dúvida que me ajudou muito, sem pedir nada em troca. E foi do nada que ela pegou em mim e entrou na minha vida"
Coimbra, julho e um calor beirão. Foi no rescaldo do XI Congresso Nacional de Geologia, na cidade onde todas estamos, e após três gins (um para cada uma, calma!) com vista para o Mondego, que seguimos o guião com a Salomé Custódio. É ela o Quaternário do APG 365, a mais jovem a dar a cara pela iniciativa até ao momento. Não nasceu com o martelo na mão, mas foi ainda em criança, com a Serra da Boa Viagem como pano de fundo, que se foi apercebendo que era a natureza morta o que a fascinava, nomeadamente as paisagens, sobretudo as diferentes daquelas onde crescia. Entrou na Universidade de Coimbra em 2013 e, como muitos universitários, o começo foi… "interessante". Após um primeiro ano de "descobertas da vida académica", transformou as desventuras dessa vida num marco: destacou-se no associativismo estudantil, ajudando a fundar a Gala dos Martelos de Ouro e defendendo os direitos dos colegas na frente do Núcleo de Geociências. Depois de uma breve incursão em perfis sísmicos, voltou à superfície de onde vem, trabalhando para o reconhecimento do território entre a Figueira da Foz e o Buçaco como geoparque da UNESCO. Venham conhecer esta ainda miúda que está sempre a sorrir, e, como cantava a outra, sem lágrima caída, dona da sua vida e de bem com a vida. E ainda bem, porque a Salomé é uma miúda mesmo fixe.
Entrevista
Coimbra, julho de 2023
1. Nome, a data e o local de nascimento.
Salomé Custódio, um do doze de 1995 e sou natural de Coimbra, mas nascida e criada na Figueira da Foz.
2. Conte-nos, como se fosse para leigos, o que faz profissionalmente.
Neste momento estou inserida num projeto de investigação. Sou aluna de doutoramento na Universidade de Coimbra e o meu projeto é, essencialmente, a fundamentação e a criação das bases para o estabelecimento de um futuro geoparque da UNESCO, no centro litoral rural de Portugal, que é composto pelos municípios de Mira, Mealhada, Cantanhede, Figueira da Foz, Penacova e Montemor-o-Velho.
3. Em que ano e onde é que ingressou no curso de Geologia?
Entrei em Geologia no ano de 2013, na Universidade de Coimbra.
4. O que é que a levou a seguir Geologia?
Não posso dizer que queria ser Geóloga desde pequenina. No entanto, no secundário tive boas relações com a Geologia, tanto que eu até tentei, no 12º ano, abrir a disciplina de Geologia no liceu onde estudava, na Figueira da Foz. E não, claro que não consegui, porque não havia malta suficiente para encher a turma e tive que migrar para a biologia. Mas não sei explicar, no liceu sempre houve algo que me aproximou mais da Geologia, sem saber sequer o que era. Chegou à altura de ingressar no ensino superior e decidi tentar. Sabia que tinha média para Geologia e entrei. Foi uma agradável surpresa, porque não sabia bem o que esperar, mas acabei por gostar. Fui bem recebida, gostei do curso, gostei das disciplinas, e nunca, em momento algum, disse "Oh!, quero trocar de curso", como acontece à maior parte dos alunos que vão para lá sem saber o que esperar. Nunca disse isso, nem nunca pensei, sequer! Não posso dizer que tenha sido a professora do secundário, que era bióloga, e que não soube propriamente cativar para a Geologia. Não. Era mesmo a matéria em si, era a que me dava mais prazer estudar, era-me acessível e tinha conteúdos que eu conseguia facilmente compreender.

"Só mais tarde é que me dei conta que quando nós somos miúdos há coisas que não percebemos, mas os meus pais sempre fizeram questão que eu fosse para a Universidade Júnior do Porto"
5. Acha que pode ter tido alguma coisa a ver com o ter crescido na Figueira da Foz?
Possivelmente. E uma coisa que eu noto, agora mais adulta, é que eu pedia sempre à minha mãe e ao meu pai para irmos para praias fluviais. Não sei se era por eu ter sempre à disposição uma praia dita normal, não é? Estava sempre ali ao pé. Mesmo quando ia passear no inverno com os meus pais, passávamos imensas vezes por Marvão, por exemplo. Recordo isso com muito carinho e adorava ver aquelas paisagens e as aldeias históricas, que era uma realidade diferente daquela em que eu vivia. Essa parte de ver a natureza sempre me puxou, pelas paisagens em si e não necessariamente pelos bichinhos que lá estavam. (risos) Só mais tarde é que me dei conta que quando nós somos miúdos há coisas que não percebemos, mas os meus pais sempre fizeram questão que eu fosse para a Universidade Júnior do Porto. Isto em 2007/2006, mais ou menos quando começou e quando a minha irmã, mais velha, também estudava no Porto. Então mandavam-me para lá. (risos) E eu ficava na Universidade Júnior onde cheguei a ter uma atividade sobre Geologia Forense. Na altura não sabia, mas subconscientemente havia sempre alguma coisa que me puxava para a Geologia. Antes dessa experiência, cheguei a dizer que gostaria de ser bióloga marinha. Não sei se era da minha vida no litoral. Então, na altura, os meus pais levaram-me ao Fluviário de Mora, mas eu depois disse "Não, afinal não é isto. É mesmo a parte da natureza, mas a que está ali sossegada". Até porque tive logo um confronto grande com a biologia, nomeadamente a nível do cheiro. (risos)

Numa saída de campo, nas Fragas de São Simão (Figueiró dos Vinhos).
6. Então Geologia em Coimbra foi a sua primeira opção?
Não, foi Geologia no Porto, mas não entrei. Coimbra foi a segunda opção. Depois coloquei Évora e Lisboa. Mas como fiquei logo na segunda opção, nem pensei em tentar outra vez. Por motivos também de logística, a minha vida teria sido completamente diferente se tivesse feito o ensino superior no Porto. Mas, na verdade, sou mais caseira e como sou muito ligada à minha terra natal, Coimbra foi a escolha.
7. Nos tempos em que foi estudante, foi uma aluna média, boa ou muito boa?
Fui uma aluna média, assim mais para o "passeadora de livros", como a minha mãe gosta de me chamar. (risos) Que eu gosto muito de passear livros. Há muitas disciplinas em que fui boa, tanto que foi nas subáreas dessas cadeiras que acabei por me especializar, nomeadamente a geofísica. Existiram outras, claro, mas como todos os alunos, há umas que nos puxam mais e outras menos. E não necessariamente por culpa do professor, mas os próprios conteúdos em si. E ainda bem que é assim, se não gostávamos todos da mesma coisa e também não havia diversificação. Mas o primeiro ano foi miserável. Descobri a vida académica, foi miserável. (risos) Mas, depois, lá me endireitei, e comecei a fazer as coisas certinhas.
8. E a nível de participação nas aulas, era mais participativa ou calada?
Era muito participativa e fazia sempre questão de me dar com os outros, de ter uma boa relação com os meus professores e que eles soubessem quem é que eu era, de reconhecerem a minha cara, de estar presente. E foi isso que depois me levou para outros níveis da vida académica, como a participação e luta pelas melhorias do nosso curso. Havia sempre injustiças e gostava de as abordar, o que me conduziu ao Núcleo de Geociências, já no meu terceiro ano. Esse foi o meu pico de participação a nível académico, o associativismo. Mas já antes, sempre que havia mostras dos laboratórios, visitas de escolas ao departamento [de Ciências da Terra, Universidade de Coimbra], organização de congressos ou quando pediam voluntários, sempre participei e tenho um bom currículo nisso. Estava sempre disponível, quer para essas atividades, quer para me pronunciar quando alguma coisa estava errada. Por exemplo, os inquéritos pedagógicos surgiram na nossa altura, porque estávamos sempre em reuniões com o diretor do departamento e havia coisas que realmente se passavam e nós fazíamos sempre questão de falar quando considerávamos que algo estava errado.

"(...) os meus pais levaram-me ao Fluviário de Mora, mas eu depois disse "Não, afinal não é isto. É mesmo a parte da natureza, mas a que está ali sossegada"

"(...) queríamos mudar as coisas, aquele típico "Queremos mudar, connosco vai ser diferente". E foi! Connosco foi diferente, e há pessoas que ainda hoje dizem que a última vez que se sentiram parte de alguma coisa, foi quando estávamos no Núcleo."
9. Como surgiu a lista?
Isso vem com o meu grande colega e amigo João 'Douradinho' Pereira. (risos) Ficámos amigos para a vida, desde o dia um. Era ele o presidente da lista que apresentámos no ano 2015/2016, se não estou em erro. Era o meu terceiro ano e já tínhamos outras responsabilidades, que eram muito importantes: (tom trocista) o carro [do cortejo], a queima, trabalhar nos convívios, no 24 [bar], ali todas as noites, para ganhar uns trocos para fazer um cortejo numa queima em que choveu a potes e granizou até! Nem aproveitámos, mas ficou a experiência. E foi por força do João. Ajudava o facto de vivermos juntos, de partilharmos casa com outros colegas do curso, de nos entendermos e partilharmos a ideia de que queríamos mudar as coisas, aquele típico "Queremos mudar, connosco vai ser diferente". E foi! Connosco foi diferente, e há pessoas que ainda hoje dizem que a última vez que se sentiram parte de alguma coisa, foi quando estávamos no Núcleo. Inclusive, fizemos uma coisa que já estava a ser falada há muito tempo, mas ninguém tinha tido coragem para fazer, que foi a primeira gala dos Martelos de Ouro! Sei que isto parece irrisório, mas todos os cursos tinham a sua gala, os "qualquer coisa de Ouro", e nós nem uma placa de martelo conseguíamos e não tínhamos uma festa para a malta da Geologia, algo que faz parte das festividades da Queima [das Fitas], no final do ano letivo. Criámos a primeira Gala Martelos de Ouro, que foi um sucesso, saímos nos jornais e tudo! Foi qualquer coisa. Ficámos contentes, até porque quem nos sucedeu, manteve a iniciativa. A realidade agora é diferente, infelizmente também houve a pandemia e as pessoas também já não estão tão predispostas a essa tradição, que entretanto foi-se perdendo no tempo. Parecendo que não, o último carro que tivemos foi em 2019, e estamos em 2023. Conta-se que em 2024 vai haver [e houve]... No geral, perdeu-se a tradição, mesmo a nível da praxe, algo em que eu e o meu colega João Pereira também apostámos forte, sem nunca deixar as coisas irem para lados errados...
10. Se voltasse atrás e entrasse outra vez na universidade, fazia tudo igual?
Talvez estudasse só mais um bocadinho. (risos) Não é que eu tenha levado o curso a brincar, porque, apesar de tudo, fiz o curso, não é? (risos) Mas teria feito outras coisas, daí ter frequentado um quarto ano. Mas a verdade é que esse ano me correu lindamente e muitas das coisas que me ficaram vieram desse quarto ano. Foi nesse ano que fiz disciplinas como mineralogia, geoquímica ou palinologia.
11. E alguma dessas disciplinas foi a sua preferida?
Não, a minha disciplina favorita foi no Mestrado em Geociências, em Coimbra. E escolhi o de Geociências concretamente porque podia aprender um bocadinho de cada área, tive aulas desde Ordenamento do Território, Métodos de Exploração de Pedreiras, tive conteúdos relacionados com energia, como Energia Geotérmica, tive uma panóplia grande de especialidades da Geologia. E gostei muito de ter essas valências. A minha disciplina favorita foi Geofísica Aplicada, dada pelo professor Nuno Alte da Veiga. Eu já tinha o bichinho das estruturas geológicas e da tectónica, outra disciplina que gostei muito [Tectónica], dada pelo professor Fernando Carlos. Geologia Estrutural não, isso não. (risos) Depois acabei por fazer a tese em sismoestratigrafia, com o Professor [Rui] Pena dos Reis e também o professor Roberto Feinstein, o qual, infelizmente, faleceu nessa altura.
12. Como surgiu a decisão de fazer um doutoramento numa área completamente diferente?
Foi mesmo no âmbito da sismoestratigrafia, do offshore da bacia de Peniche e do offshore da Bacia Lusitânica, que surgiu uma oportunidade para fazer património geológico. Que tem tudo a ver! (risos) Porque por conta do meu mestrado acabei por ficar inserida no Centro de Geociências (CGeo), que me apoiou muito. Foi uma época muito desafiante, complicada, e que até hoje relembro com muito carinho todo o apoio que me deram. Quando terminei e apresentei o mestrado, já só queria era desaparecer e fazer umas férias e estava a despedir-me da malta e a agradecer, aquelas lamechices todas, e dizem-me, "Amanhã é dia de trabalho", e eu, "Está bem!". (risos) Então apareci lá no dia a seguir! (risos) Começou a haver burburinho sobre o projeto, que na altura ainda não se chamava Geoparque Atlântico. Foi nessa altura que se deram os primeiros passos do "Geoparque Jurássico da Figueira da Foz", que foi iniciado pelo Município da Figueira da Foz, pelo antigo Presidente da Câmara, o Doutor João Ataíde, que infelizmente também já faleceu. Já na altura, em 2017, eu tinha-me voluntariado para tal, porque eles tinham, no âmbito da divulgação do "Geoparque Jurássico da Figueira da Foz", montado no Parque das Gaivotas [Pavilhão Multiusos] uma exposição intitulada "Os Dinossauros visitam a Figueira", penso que era isto. E estavam a pedir voluntários para ajudar na exposição e eu disse logo "Eu! Eu vou!". (risos) Isto já foi em 2017, mas foi a minha primeira experiência nesse contexto. Quando houve novamente vontade camarária de continuar esse projeto, até porque era um projeto muito querido do Doutor João Ataíde, gostei da ideia e, estando inserida no CGeo, comecei a ligar as coisas. Era uma oportunidade excelente e eu sinto que me enquadro bem nesse tipo de projetos. O resto é história, mas começou, continuou e está a acontecer. Com muito trabalho! (risos)

"Quando terminei e apresentei o mestrado, já só queria era desaparecer e fazer umas férias e estava a despedir-me da malta e a agradecer, aquelas lamechices todas, e dizem-me, "Amanhã é dia de trabalho", e eu, "Está bem!". (risos) Então apareci lá no dia a seguir! (risos)"
13. Qual foi o seu primeiro trabalho remunerado?
Este! (risos)
14. Que colegas entraram consigo e estão agora a trabalhar em Geologia?
Tenho muitos! E isto talvez vá em contradição da ideia errada que as pessoas têm de que não há futuro na Geologia. Tenho colegas na academia, colegas na indústria, na parte comercial, na consultoria ambiental. Ainda recentemente tive essa conversa durante o XI Congresso Nacional de Geologia. Encontrei lá algumas pessoas que eram mais velhas do que eu, mas com as quais tive alguma ligação, e estávamos a fazer uma análise estilo, "E aquele está a fazer o quê? E aquela está onde?" e responderam-me "Epá, o vosso ano, de facto, foi o que mais empregou malta em Geologia!". Todos, todos praticamente, estão empregados, em pedreiras, incluindo na parte comercial, um em consultoria ambiental, outro em deteção remota, mas também na academia, por exemplo, a Margarida Vilas-Boas, que está a terminar doutoramento em Palinologia, no Algarve. Depois, por exemplo, o João Pereira está numa start-up de deteção remota, a fazer o trabalho de geólogo, ou o Roque Figueiredo, que está a trabalhar numa pedreira ao mesmo tempo que termina uma pós-graduação na área de economia, para ocupar outras funções na mesma empresa. E é engraçado, porque quando estes meus colegas foram fazer entrevistas para estes empregos, quem os estava a entrevistar eram pessoas com quem nos cruzámos no curso também, que eram dois ou três anos mais velhas. Portanto, esses também estão dentro da área e bem posicionados.
15. Vocês eram quantos, quando entraram?
No início éramos os típicos 30, que entraram. No segundo ano já éramos uns 15 e todos participativos, ativos. Há sempre aquele que vai para biologia, não é?, "Ai eu não queria Geologia, queria biologia". Depois há outros que foram para outro tipo de coisas completamente opostas, como direito ou até engenharias ambientais. Mas éramos 15, sei que há uns quantos que nem sequer tentaram ficar a trabalhar na área, acabaram e foram intencionalmente fazer outra coisa da vida.
16. Dentro daquilo que é o conjunto das suas atividades, qual é a que lhe dá mais prazer?
O que mais gosto é a divulgação inerente ao meu trabalho. Gosto de comunicar. E, particularmente, fazer a divulgação com os meus colegas de trabalho, fazer atividades com eles, não necessariamente inerentes ao meu projeto. Mas, no geral, fazer divulgação de todo o âmbito do trabalho científico que se desenvolve na academia.
17. E o que menos gosta de fazer?
Isso é muito fácil, vou dizer burocracias. (risos) Para além do meu projeto, também tenho outras competências e responsabilidades, para ajudar o grupo no qual estou inserida. Tenho até um alter ego: há a Salomé e há a Sara, e a Sara atende os telefones, manda e-mails, organiza eventos muito importantes como aniversários, comanda as tropas, e trabalha na renovação e gestão do website do Centro de Geociências. Eu faço isto com gosto, mas isto tudo e mesmo as burocracias s.s. ocupam muito tempo.

"O meu percurso é muito breve, digamos, pequenino, comparado com o da malta com quem eu trabalho e isso também me dá motivação para continuar e atingir os meus objetivos – sei que isto realmente vale a pena!"
18. Já consegue identificar um momento marcante no seu percurso?
O meu percurso é muito breve, digamos, pequenino, comparado com o da malta com quem eu trabalho e isso também me dá motivação para continuar e atingir os meus objetivos – sei que isto realmente vale a pena! Já tive alguns momentos marcantes, alguns convites e algumas atividades, mas diria que o momento mais marcante foi este convite, porque eu não estava mesmo nada à espera! (risos) Nada à espera, mesmo. Surgiu do nada! Peço desculpa a todos que participaram nos outros momentos marcantes, mas… (risos) Claro que concorrer à bolsa [de doutoramento] e ficar colocada foi um grande marco, porque também impulsionámos muito o próprio desenvolvimento do aspiring Geoparque. O "Projeto de Tese" também foi outro marco, a tese de mestrado também, sendo que vejo isso como um percurso académico, não profissional. Tecnicamente, a profissão começou quando eu acabei o mestrado, foi no dia seguinte, em que eu cheguei lá às nove da manhã, no dia 15 de dezembro. Epá, ninguém merece trabalhar pela primeira vez no dia 15 de dezembro. (risos) E, a partir daí, tenho recebido muitos convites, como uma entrevista para a TSF e o documentário do "Outras Histórias" da RTP1. E, claro, os convites relacionados com a componente de divulgação do meu projeto de doutoramento, como eventos que decorreram na Figueira da Foz, para os quais tive de elaborar folhetos ou conduzir visitas ao Cabo Mondego. E foram todos esses momentos que culminaram no que estou a fazer hoje.

"Tenho até um alter ego: há a Salomé e há a Sara, e a Sara atende os telefones, manda e-mails, organiza eventos muito importantes como aniversários, comanda as tropas, e trabalha na renovação e gestão do website do Centro de Geociências"
19. Há alguém que considere uma georeferência?
Eu não sou muito dessas coisas. (risos) Claro que tenho um conjunto de pessoas que admiro, que me fazem melhorar todos os dias e que me apoiam, mas eu não tenho essas crushes geológicas, pá, não é algo que me assiste! (risos) Mas só posso pensar na professora Maria Helena [Henriques], não querendo ser parcial na escolha. Porque a professora Maria Helena foi e é um grande ídolo, e vejo-a todos os dias, vejo sempre o que está a acontecer, e tudo o que se passa, e ela sem dúvida que me ajudou muito, sem pedir nada em troca. E foi do nada que ela pegou em mim e entrou na minha vida. Já dizia "Olá", "Bom dia", "Boa tarde" no corredor, mas nada de mais. E ela apostou em mim e aqui estou. (risos) Sem dúvida que é uma referência e gosto muito de trabalhar com ela. E acho que ela também gosta de trabalhar comigo, não sei. (risos)
20. E já teve assim algum momento mais embaraçoso ou um falhanço?
Tive um com um senhor da ADELO [Associação de Desenvolvimento Local da Bairrada e Mondego]. Porque tinha o número dele, do "Dr. António", e mando-lhe um WhatsApp, a pensar que é outro António, que dizia, "Então António, tiveste saudades minhas?". (risos) E quando me apercebo que enviei para o António errado, pedi logo desculpa e, claro, ele depois disse que não tinha problema. Este foi assim o momento mais embaraçoso. Foi muito, bastante, até! Mas para que fique registado, o Dr. António reagiu de uma boa maneira e amigos na mesma. Mas fiquei sem saber se ele realmente tinha saudades minhas ou não. A isso ele não respondeu. (risos)
21. Tem alguma publicação geológica que lhe seja particularmente querida?
Eu trabalho num território que já é estudado desde há muitos, muitos anos, e, portanto, tenho muitas bíblias que estão relacionadas com o meu trabalho e eu passeio-as muito, também. (risos) Mas diria que a publicação assim mais recente e de que eu gosto muito é a dos 100 geossítios, da IUGS [The First 100 IUGS Geological Heritage Sites]. Acho que é uma temática que não podia vir em melhor altura e está muito bem conseguido. E estou à espera de uma edição com outros geossítios [entretanto saiu o segundo livro: The Second 100 IUGS Geological Heritage Sites, em 2024].

Intraclasto
O Núcleo de Geociências
Como intraclasto, a Salomé trouxe-nos duas fotografias mas, sobretudo, o que elas representam: as suas passagens pelo Núcleo de Geologia da Universidade de Coimbra, a junção de duas coisas das quais gosta muito, Geologia e Política.
"Escolhi uma fotografia de 2016, onde estou eu e o "Douradinho", no dia em que a lista seguinte, o mandato seguinte [ao nosso], tomou posse. Foi quando terminámos as nossas ações de associativismo no Núcleo de Geociências. Mais tarde, agora este ano [2023], voltei para o Núcleo. Na outra fotografia, ao lado da Maria Mourinho, apareço noutro patamar, agora enquanto estudante de doutoramento, onde pertenço à parte pedagógica e para, de certa forma, o conhecimento não se perder, pois levo-lhes muito do que se passou antigamente e do que acho que se deve voltar a repetir. Levo com muito carinho o ano em que fui vice-presidente com o João Pereira, foi, sem dúvida, uma altura em que aprendi muito e que me moldou. E, honestamente, um dos meus maiores arrependimentos - ainda há bocado estavam a perguntar o que é que eu faria diferente - foi não ter feito uma lista para o mandato seguinte. Teria mudado muito o rumo das coisas e, creio, teria mudado muito também a mim."
(Inês) Salomé à direção da Sociedade [Geológica de Portugal]! (risos)
(Salomé) Votem em mim! (risos)
Geomanias
Rocha preferida? Pedra pomes
Mineral preferido? Apatite
Fóssil preferido? Uma amonitezinha
Era, Período, Época ou Idade preferido? Como boa aluna de Coimbra, que sou, vou dizer o Mesozoico
Unidade litostratigráfica preferida? Formação Dagorda
Trabalho de campo ou de gabinete? Gabinete
Pedra mole ou pedra dura? Dura
Martelo ou microscópio? Martelo
Recursos minerais metálicos ou não metálicos? Metálicos
Ortóclase ou Ortoclase? Ortoclase,
se bem que eu nem digo isso, sequer, isso não faz parte do meu vocabulário
diário! (risos)